Espanhóis miram soja brasileira após tarifaço de Trump e veem tendência na Europa

Espanhóis miram soja brasileira após tarifaço de Trump e veem tendência na Europa

© Caminhões são abastecidos com soja em porto de Nantong, na China (REUTERS/Stringer)

Essa análise foi comunicada nesta segunda-feira (7) ao governo brasileiro, pelo embaixador do Brasil na Espanha, Orlando Leite Ribeiro. A reportagem teve acesso ao ofício que foi enviado ao Ministério de Relações Exteriores.

No documento, o embaixador afirma que quase a metade da soja importada pela Espanha vem dos EUA. O país europeu hoje é o maior produtor de rações e carne suína da União Europeia, além do segundo maior produtor de carne de aves, só atrás da Polônia.

Por isso, avalia Ribeiro, o agronegócio espanhol teme que a decisão da União Europeia, de “bater onde mais dói” nos EUA, dada a relevância no mercado europeu, cause aumento local de custos e, consequentemente, alta nos preços da carne. Daí o Brasil ser a saída mais evidente não só para a Espanha, mas toda a União Europeia.

“O Brasil tem sido o principal fornecedor do produto para a Espanha, com valores de importação relativamente estáveis na última década, seguido de perto pelos EUA”, afirmou o embaixador. “Em 2023, o Brasil respondeu por 48,4% das importações espanholas e os Estados Unidos, por 47,5%.”

Globalmente, o Brasil respondeu por cerca de 55% das exportações mundiais de soja em 2024, segundo os dados do Ministério da Agricultura. O volume chegou a 101,86 milhões de toneladas, aumento de 29,6% em relação a 2023.

No ano passado, a soja foi o principal produto da pauta exportadora brasileira, com valor de US$ 52,3 bilhões, crescimento de 14,7% sobre 2023. Os grãos responderam por cerca de 16% do total das exportações brasileiras no ano.

A importância da soja para o agronegócio espanhol está refletida em sua dependência de outros países. Hoje a Espanha importa cerca de 95% da oleaginosa que consome.

Como a China já anunciou que aplicará uma tarifa de 10% sobre a soja americana, o agronegócio espanhol avalia que a adoção de medida semelhante pela União Europeia deva levar o bloco e Pequim a disputarem os estoques do Brasil e da Argentina. O país vizinho “tem atualmente pouca relevância no suprimento de soja para a Espanha, superado por produtores como Canadá, Uruguai e Ucrânia”, como afirma a embaixada.

Apesar do potencial baque no comércio global, o Brasil pode se aproveitar do rearranjo dos fluxos comerciais e expandir o volume de transações às economias mais afetadas, como União Europeia, China, Japão e México.

Nos últimos anos, os setores de rações animais e de carnes têm competido com a demanda crescente da soja para consumo humano, como leites vegetais, molhos e produtos fermentados, o que contribui, ainda que marginalmente, para a alta de preços.

A Embaixada do Brasil na Espanha cita, ainda, como a imprensa local tem se referido ao agronegócio brasileiro, com previsão de safra recorde de soja neste ano. A menção é de que o agro nacional “está esfregando as mãos” à espera de consequências mais concretas do tarifaço de Trump.

Questionada sobre o assunto, a FPA (Frente Parlamentar Agropecuária) não se manifestou sobre o tema. Em geral, porém, predomina uma análise de que o cenário tende a favorecer os produtos nacionais.

O governo acompanha o cenário com cautela. Um aumento forte da demanda externa pela soja poderia aumentar o preço do produto brasileiro, reduzindo a oferta no mercado interno e, assim, resultando em inflação no Brasil, o que o governo Luiz Inácio Lula da Silva tem tentado combater, sem sucesso.

Em relatório atualizado em janeiro deste ano, o Departamento de Agricultura do governo dos EUA (Usda, na sigla em inglês) calculou o impacto da guerra de tarifas para o setor do agronegócio. Entre 2018 e 2019, a retaliação comercial causou perdas de mais de US$ 27 bilhões nas exportações agrícolas. O maior prejuízo veio da queda das importações chinesas, e só a soja respondeu por 71% da redução.

O grande vencedor da guerra, segundo a Usda, foi o Brasil, que absorveu “a maior parte do comércio perdido pelos Estados Unidos no ramo da soja”. Só em 2018, a China diminuiu as importações da commodity dos Estados Unidos em pouco menos de US$ 7 bilhões e, em contrapartida, aumentou em US$ 8 bilhões o consumo de produtos agrícolas brasileiros, “quase inteiramente em soja”, cita o documento.



Folha SP

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